
Ela defende a adoção de protocolo clínico e programa de atenção psicossocial
Seja em decorrência de luto, solidão, ansiedade, depressão ou vínculos familiares interrompidos, o aumento expressivo do número de pessoas que “criam” ou “adotam” os bonecos hiper-realistas conhecidos como “bebês reborn”, em todo o Brasil, inclusive em Salvador, tem preocupado a vereadora Aladilce Souza (PCdoB), que é profissional de saúde e professora de enfermagem. Ela observa que essa relação se dá tanto em contextos terapêuticos quanto afetivos ou simbólicos. Por meio de projeto de indicação protocolado na Câmara, ela sugere à Secretaria Municipal de Saúde a adoção de um protocolo clínico específico e a criação de um programa de atenção psicossocial voltado a esse público.
As ações, segundo ela, devem envolver escuta, acolhimento, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, bem como atividades educativas e formativas voltadas aos profissionais de saúde da rede. “Essa prática, embora não configure, por si só, uma condição patológica, pode expressar sofrimento psíquico que merece atenção clínica e acolhimento qualificado”, alerta Aladilce.
A frequência com que os casos estão sendo registrados nos serviços de saúde, expõem, segundo ela, a necessidade urgente de orientação técnica aos profissionais da área, “para que saibam acolher tais demandas com empatia, evitar condutas constrangedoras ou violentas, e, ao mesmo tempo, avaliar, com responsabilidade ética, os indícios de sofrimento psíquico das pessoas envolvidas”.
Cuidado e empatia
De acordo com a indicação da vereadora, que é defensora intransigente do SUS, fundadora e dirigente do Sindsaúde-Ba, o Sistema Único, por meio da Política Nacional de Saúde Mental e da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), deve promover “cuidados integrais, humanizados e territorializados, considerando as múltiplas expressões da subjetividade e das formas de elaboração emocional dos indivíduos”. Ela chama atenção, ainda, para a importância de capacitar as equipes da Atenção Básica, dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), “para atuarem com empatia, técnica e sensibilidade diante dessas demandas emergentes”.
O estigma e o preconceito, alerta Aladilce, ainda são barreiras relevantes ao cuidado em saúde mental: “E é papel do poder público garantir escuta qualificada, autonomia e respeito aos modos de vida das pessoas”. Em diversas cidades do Brasil estão surgindo casos de pessoas que procuram unidades de saúde pública para solicitar atendimento clínico aos bonecos “bebê reborn”, acreditando ou declarando que estão diante de recém-nascidos reais.